Ideologia? Não… eu NÃO quero uma pra viver !
Cazuza dizia justamente o contrário em sua música Ideologia (veja a letra e o vídeo da música), mas obviamente ele o fazia como uma crítica ao absurdo da perda de referência que vivemos e sua conseqüente percepção de falta de sentido.
No contexto da música, a frustração advinda pelo fracasso dos sonhos, faz com que seja preferível ter uma ideologia “pra poder viver” (no sentido de aguentar) do que continuar encarando a realidade nua e crua…
Cazuza lançou mão de um recurso poético para alertar sobre a gravidade da situação que vivemos… é tão absurda que eu preciso disso para conseguir sobreviver. Sob um viés psicológico, precisamos fazer uma distinção e nortear nossa postura para algo diferente e (mais) sustentável a longo prazo.
Em primeiro lugar, é importante clarificar qual o sentido de ideologia que estamos adotando aqui. Via de regra, ela pode ser entendida de duas formas principais: como ideário (somatória de idéias que compõe uma situação) ou como uma força velada que impele as pessoas a tomarem decisões que corroboram com os interesses de uma classe dominante que influencia e tem controle sobre elas.
É justamente desse segundo conceito (e mais usual academicamente) que estamos falando. Aliás, Cazuza também. Dentro dessa categoria de força velada, podemos elencar uma série de situações onde a ideologia pode se manifestar: moda, mídia, opiniões politicamente embasadas, padrões de estética, procedimentos médicos, hábitos e costumes religiosos, etc.
A ideologia, entendida dessa forma, tem uma conotação negativa uma vez que ela tira a autonomia do sujeito em discernir sobre suas decisões, pois ele está sendo manipulado (ou deixando-se ser!) para agir de uma forma que apesar de parecer ser sua escolha legítima é, na verdade, o resultado de uma complexa trama de influências e forças não evidentes que “empurram” a pessoa a tomar atitudes do interesse de uma classe dominante.
Exemplifiquemos trazendo para o “aqui e agora”: outro dia eu estava dirigindo meu carro e ouvi uma daquelas chamadas no rádio com uma assessora de moda dizendo que “na próxima estação o que se vai usar são sapatos de bico assim ou assado”… espera aí! Como assim? O que SE VAI usar!? QUEM vai usar? E POR QUE? Quer dizer que eu estou sendo informado de que vou usar alguma coisa que eu ainda nem vi? E deverei comprá-la, gostando ou não, porque isso já é tido como certo?
Desculpe a minha ignorância, mas não faz o menor sentido para mim, eu ser informado de que eu terei de usar um sapato x, y ou z, porque uma assessora de moda tem informação privilegiada de que o mundo da moda ditou a regra de que isso é o certo para a próxima estação. E eu devo assumir isso como regra e tenho que sair comprando o tal do sapato que a indústria da moda quer empurrar pela minha goela abaixo?
Esses e outros tantos exemplos podem ser usados para mostrar o absurdo que é permitir-se ficar refém de um ditame de regras que nada mais são do que uma forma de controlar as pessoas e onde elas gastam o seu suado dinheiro.
Não… eu NÃO quero uma ideologia pra (sobre)viver! Eu quero saber, conhecer, analisar, criticar e entender quais são minhas alternativas, qual o custo e quais as conseqüências de cada decisão que eu faço… Eu quero poder ser AUTOR da minha vida ao invés de um ATOR que simplesmente percorre submissamente o roteiro que me tiver sido escrito por outro alguém…
E você o que prefere? Ter uma ideologia pra poder viver ou tomar consciência do maior número possível de fatores em uma situação? Faça um comentário e compartilhe conosco sua opinião.
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Patrícia Mantovani e Flávio Mesquita
Oi, estou de pleno acordo com vcs. Temos que andar com nossas próprias pernas. A sociedade é muito hipócrita e quer que todos sejam submissos a ela. As pessoas se deixam influenciar com toda essa bobagem.
Olá Nice, obrigada pela participação.
Continue nos acompanhando.
Um abço